Estudei em um colégio de São Cristovão no Rio de Janeiro, e me lembro da minha professora de francês, a assustadora e implacável Mdme. Doutel, segundo minha cabeça, tinha muito cuidado pois ela era muito exigente, tanto na disciplina do aluno, quanto na sua dedicação aos estudos, não poderia nunca deixar a peteca cair com essa orientadora que hj julgo fabulosa e que de forma positiva me ensinou muitas coisas além da lingua francesa. Ela era uma senhora de idade, de cabelos grisalhos acinsentados, vestia tayeres elegantes, sóbrios e de muito bom gosto. Como eu a temia e respeitava eu sentava lá no fundo da sala e perto do corredor de passagem até o quadro negro, pois sempre ela me colocava no quadro para escrever algumas palavras ou frases em francês. Quando ela chegava na sala bem na porta, batia com seu bastão bengala, sem o segurador de mãos igual aos usados nos guarda-chuvas, era igual ao bastão que a orientadora de misses usava, batia com certa força para se anunciar e dava bonjour a todos que respondiam, bonjour Madme, e em seguida ela respondia assez et vous, pronunciava-se assim, não sei mais a ortografia dessas palavras, e queria dizer, podem sentar-se, ou então eramos nós que respondiamos imediatamente, querendo dizer podemos sentar, talves seja e em coro, se não me engano, e ela naturalmente, deveria responder Oui. Talves seja isso. Depois de algumas palavras de ensinamento ela levantava-se e naquele mesmo corredor que descrevi antes ia até a minha carteira escolar, me observar de cima a baixo, para ver minha camisa extremamente engomada, passada sem vincos, e os meus sapatos engraxados e cheios de brilho, pois era assim que minha mãe me vestia, depois voltava-se para os outros alunos dáva uma ligeira olhada e voltava para sua cadeira, nunca dizia ou tecia qq comentario a respeito, mas estava implícito. As aulas não eram difíceis e portanto, além de estudar com afinco, tirava dez em todas as provas de francês. Também tirava notas iguais em outras máterias, me tornando o aluno da escola que carregava a bandeira brasileira em determinadas comemorações, perfilado como um soldado e de cabeça sempre erguida, de orgulho talves, como essa professora marcou tanto a minha vida estudantil, por vezes comentava sobre ela, com outras pessoas quando o asunto era "estudos", e uma vez
estive na casa da chefe do meu primo e dona de um salão de beleza em frente ao Copacabana Palace do Rio de Janeiro, ele era bem mais velho que eu uns 15/20 anos, e me convidava para vir comer com ele em Copacabana, inhoques sobrepostos em folhas de alface e enfeitados com filetes de tomates, era o meu regalo esta comida, era assim uma das unicas iguarias que minha amiga mãe não sabia fazer ainda, pois era portuguesa e não italiana, mas batia uma bola, na bacalhoada portuguesa e nas muquecas brasileiras de peixe com molho de camarão, fora que aproveitava o caldo do camarão e fazia uns croquetes com camarões miudos, empanados na farinha de rosca e fritos no azeite português de dar inveja a qq gourmet. Mas voltando a conversa com a patroa do salão Charme, que mais tarde deixou dito estabelecimento de presente para ele, falavamos sobre meus estudos e quando comentei sobre a Mdme Doutel com esta senhora, Dna Tereza, ela me disse, hi! rapaz acho que ela mora ou morou aqui perto de mim em outra casa da Rua Rainha Elizabeth da Bélgica aqui em Copacabana e por vezes frequentava o salão de beleza de minha propriedade e a encontrei vez por outra passando aqui pelos arredores da minha residência e nos cumprimentávamos, razão pq fiquei sabendo seu nome e tb atraves do salão de beleza, penso eu. Ri muito com esta senhora pela coincidência e fiquei até meio que estupefato com o carater do assunto. Sentia saudades dela pois nunca mais a vira. Depois na época me transferi para outro colégio em Benfica, no Sindicato dos Metalúrgicos, da campanha nacional de educandários gratuitos. Lá tb encontrei uma Diretora não portuguesa mas de Manaus, Amazonas, onde meu pai viveu sua infância e antes dos quatorze anos migrou para o Rio de Janeiro, e poucos anos depois, meus pais GuiomarMello e Mario Corrêa, ambos portugueses, vieram a namorar e casar e o mais importante disso foi que meu pai conheceu minha mãe em Petrópolis, onde minha mãe fora estudar em colégio de freiras na casa de uma irmã, minha madrinha de batismo/Laura Mello , que vivia em Petropolis com o marido e foi assim que na Cidade Imperial se conheceram e fizeram seu pacto de vida, e tiveram quatro filhos, e eu sou um deles. O caçula assim como minha mãe tb era na familia dela e como eu ficou sozinha grande parte de sua vida pois seus diversos irmãos foram morrendo, pela idade é claro. Interessante tb é que quando criança minha mãe me mostrava em Higienópolis, Bonsucesso, onde fui criado até a adolescência, um arvore milenar do século 17/18 com argolas de ferro encrustradas no grosso tronco da arvore que fora do tempo dos escravos dos meus bisavôs portugueses que tinham uma fazenda na localidade, ainda existia tb uma casa que pertencera aos meus ancestrais, próximo a avenida Brasil e datava de 1800 e qq coisa, em pé cuidada e pintadinha de azul claro. Um casaredo portugues com ladrilhos desenhados e sobrepostos pelo entorno da casa. Sim voltando atras a Diretora do novo colégio e de Manaus, pela coincidência de meu pai ter sido criado na terra dela, uma cabocla linda e educada, acabei tb como aluno escolhido para carregar a bandeira do Brasil ou a do Sindicato ou a do proprio Colégio, mas eu ia na frente com a bandeira brasileira mesmo, assim escolhido por ela, mais uma vez Deus fez seus contornos em volta de mim, me protegendo e me incentivando a estudar e trabalhar. Olha trabalhei por ali na Kibon como office boy e estudava a noite nesse colegio, me transferi para o turno da noite para poder trabalhar. Bem e como foi que consegui este emprego. Vou contar outra coincidência num outro tópico a frente. Vou contar tb como da mesma forma que minha mãe fiquei sozinho pois nos ultimos treis anos perdi duas irmãs e um irmão, dois de Saquarema e uma de Petropolis, uma barra gente. Agora quero ir para o quiosque do arpoador tomar uma agua de coco, pois está muito quente aqui.
MARCIO MELLO
domingo, 8 de março de 2009
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